Eu ainda estou arrumando os sentimentos.
Tirei tudo da bagagem e decidi colocar no papel assim mesmo, do jeito que eles voltaram da
viagem.
Fui para o Haiti e uma mistura de emoções resolveu me acompanhar.
Alegria, tristeza, compaixão, raiva, piedade, medo, desejo de mudança.
As dúvidas rodeiam meu pensamento… pior do que isso, agora moem meu peito.
Luciana Demichelli

Luciana Demichelli
Luciana DeMichelli é jornalista. Trabalha em TV e Mídias digitais. Adora contar e ouvir boas histórias. Tem sempre sua "versão" de fatos e filmes.
Celebrar pequenos progressos é fundamental para o processo de mudança, seja ela qual for.
Eu me lembro que quando eu era criança a gente viajava de carro de Tupã, no interior de São Paulo, para Barra do Bugres, no Mato Grosso. Era uma viagem sem fim.
Bastava entrar na Caravan marrom e eu lançava a pergunta que iria nos acompanhar a viagem inteira: “Pai, tá chegando?”
Era assim a cada quilômetro da viagem… e olha que eram mais de 1300km. “Pai, e agora?”
Para passar o tempo, a gente brincava de contar os carros.
Cada um escolhia uma cor e a competição da família durava horas.
A estrada era sinuosa, muitos trechos de terra batida.
Meu pai estabelecia a meta e a cada 100 km a gente comemorava.
De 100 em 100, de repente a gente chegava.
Minha maior alegria era correr para abrir a porteira.
Todo mundo quer ser perdoado por um erro, mas é sempre difícil perdoar.
Ninguém quer dar uma segunda chance, mas sempre espera a segunda chance de alguém.
Já pensou nisso?
A gente faz fofoca e não quer ninguém falando a nosso respeito. Estranhos somos nós.
Eu achava que perdoar era aceitar o erro, passar a mão na cabeça. Engano meu. Perdoar é ir muito mais além.
No dicionário, um dos significados da palavra é poupar. Talvez o mais intenso deles.
Poupar dos julgamentos, da raiva, do sofrimento.
Aliviar para o outro e para nós mesmos também.
E falo de pequenas coisas.
Falei com Deus, em português!
A oração, quando feita na língua materna, parece mexer com as raízes do nosso coração… ele se fortalece, pulsa mais acelerado. Por mais que alguém fale bem um segundo idioma, orar no próprio é quase um encontro particular com Deus. É como se a gente batesse na porta e ouvisse um “entra que está aberta”.
Ainda me lembro do meu primeiro bilhetinho de amor.
Eu tinha uns 10 anos de idade.
Talvez esse fato não esteja nas memórias do Renato.
A carta foi entregue na frente do posto de gasolina.
Dizia assim: “peguei um barquinho para atravessar o oceano somente para dizer que te amo”. A promessa não durou nem as braçadas da piscina do Tênis Clube de Tupã.
Estou grávida!
A frase me atingiu em cheio. “Os filhos são nossos mestres mais do que nossos aprendizes”.
Saiu da boca de uma médica antroposófica e foi direto para minha mente.
Ficou ali, insistentemente.
Faz quase 10 anos que estou nessa missão de aprendiz.
A gente educa um filho com a intenção de fazer tudo certo, mesmo quando a gente erra.
E claro, sem querer, a gente erra.
E lá estão eles prontos para nos dar a próxima lição.
Hoje uma pergunta me intrigou: O que você deixou de ser quando cresceu?
Me lembrei da dona do zoológico… da bailarina… da vendedora de doces…
Na minha lojinha toda criança teria o direito de comer, sem pagar.
O tempo, cruel, levou esses desejos.
Já na sua versão generosa, o tempo foi capaz de armazenar outros sonhos comigo.